Enjoadinho

-



Poema Enjoadinho

Vinicius de Moraes.

A Ausente




-

Amiga, infinitamente amiga
Em algum lugar teu coração bate por mim
Em algum lugar teus olhos se fecham à idéia dos meus.
Em algum lugar tuas mãos se crispam, teus seios
Se enchem de leite, tu desfaleces e caminhas
Como que cega ao meu encontro...
Amiga, última doçura
A tranqüilidade suavizou a minha pele
E os meus cabelos. Só meu ventre
Te espera, cheio de raízes e de sombras.
Vem, amiga
Minha nudez é absoluta
Meus olhos são espelhos para o teu desejo
E meu peito é tábua de suplícios
Vem. Meus músculos estão doces para os teus dentes
E áspera é minha barba. Vem mergulhar em mim
Como no mar, vem nadar em mim como no mar
Vem te afogar em mim, amiga minha
Em mim como no mar...

-

Vinícius de Moraes
Vinicius em Portugal
Festa. 1969

Monólogo das Mãos

-



-

Passarinho na janela.

-



-


Ai, Passarinho
Não saia da minha janela
Preciso do carinho
Dessa nobre donzela

Será que é demais?
Pedir um pouco de amor
E que ela não deixe jamais
Esse pobre pecador?

Avise ao meu bem querer
Que juntos iremos prover
Beijos com ardor
E as mais belas cenas de amor

Ah, Passarinho, já vai embora?
Caso queria, volte outra hora.
E traga – me as lembranças dessa donzela,
Sempre tão bela.

-

Rodrigo Leite

-